15 setembro 2009

interstício

Estou vivendo um interstício de sentimentos e de idéias... 
reorganizando minha cabeça e meu coração - 
órgão simbólico mais importante em minha caminhada. 
Com fé em mim os poemas voltarão.

28 agosto 2009

Alma!

Casual

lembranças do não
do café do rádio do televisor
da porta sempre fechada
do primeiro amor no chão

lembranças do não-dito
do corpo nú no espelho
da flor deitada no travisseiro
dos bilhetes e da chave do banheiro

lembranças
- já foi esquecido?
do que permanece ignorado
do amor ameaçador
que persiste em ficar...

encontro casual
casualmente esquecido. 

23 agosto 2009

t.o.c.a. r.a.u.l.


"Toca Raul!" ouve-se, quase sempre, em uníssono em festas da capital baiana. Talvez seja pilhéria, desrespeito com o cantor ou simplesmente vontade... Mas certamente é um elogio pelo ataque, invertendo a lógica - Raulzito era mestre nisso. Novos conceitos, novas moscas na sopa, novos mundos, novos Pedros, velhas viagens no mesmo caminho. "Há muito tempo atrás na velha Bahia..."fazia-se tão bom Rock 'n Roll quanto o legado deixado. TOCA RAUL!!!!!!!!

22 agosto 2009

Eu e meu filho!!!! Eterna parceria. Continuação...não sei de que ainda, mas há de haver algo. Nesse sorriso feliz, nesta paz, neste impulso pelo descobrimento, neste meu bom-dia ao Universo. Nos primeiros passos, no primeiro "pá pá pá pá", na reorganização dos espaços para ele; na minha vida que volta a ter sentido. Eu te amo, Ulisses.

14 agosto 2009

Grito Surdo

há tempos calado
insaciavelmente mudo
sem teto ou desejo
pele ou beijo, ou tudo...
.
.
"cale-se" dizia
"ouça" outra coisa
não se permitia
nem dava qualquer trela
.
.
escrever tornou-se
tão dramático quanto
uma faca cega (e muda)
empobrecendo o corte
.
.
calado como a máscara
pendurada na parede
do quarto do fundo
como agonia do espírito
.
.
há tempos
sem falar ou (d)escrever
sonhos ou idéias
casinha-de-boneca ou caos.

06 agosto 2009

Pandora

quero te ver, meu amor
sentir o calor dos teus sussurros
a força dos teus braços
enquanto me envolvem na insanidade do amor

seus olhos ainda estão no meu espelho
refletindo toda a sua alma e dor
que ficam impregnados em mim
quando começo a pensar em você

provoque-me com teu jeito manso
enlouqueça-me com a tua audácia
- chamando meu nome quando passo por ti...
...revirando os olhos, fitando o próprio corpo

quero te ver, meu amor
tocar outra vez a caixa de Pandora
santuário pleno de tua beleza e
claustro balsâmico do meu coração - já cansado.

05 agosto 2009

Abusa-me

abusa-me este desejo
que se marca e se apresenta
desenhado em meu corpo
mas, como uma obsessão pétrea,
prende-me frente ao verso do espelho

a sabedoria de lidar comigo
tão esmiuçada e explicada
(meus pares sabem muito!)
surpreende este interregno que sou
- não sou isso nem mesmo aquilo.

que saber-(me)se é este?
que, em verdade, falha 
esquecendo do corpo e do sangue - do concreto
- só existe frente aos teus olhos infantis
digo, num desdém às impressões

será que não veem o excesso de máculas?
quando elegeram, instituíram
cicatrizes e arranhões como prova?
- eles (meus objetos amorosos)  não leem meus meus olhos!
de tanto que a mim se voltaram.


04 agosto 2009

á.g.u.a.

não há água que chegue
p'ra boca que seca
amor que não presta
mão que (não) se eleva
amigo que entrega
parente que não pega
inimigo que reza

não há água que chegue
p'ro sono que faltou
no pranto rolado
no desejo falhado
p'ra ansiedade que chegou
no beijo não roubado
p'ros pensamentos truncados

não há água que chegue
p'ra saúde que espera
humor que tolera
saudade que exaspera
no peito que acelera
- pois já é noite, quem dera?
-nas fotos ainda é primavera!

não há água que chegue
p'ra caos formado
p'ro mesmo amor em pedaços
- saia, deixe de estardalhaço!
p'ro sonho já cansado
- disso, só estilhaços!
para a lágrima do palhaço

não há água que chegue
p'ra ferida do espírito
p'ros moinhos de minha paciência
p'ro salivar
excitar, engolir e permitir
para mim e para você
para desfazer o que não foi feito!

salve "as-águas".

28 julho 2009

m.o.r.t.e.s.

A morte, às vezes, parece um presente. Suas névoas e sombras de mistério. Seu ar soberano... sua libertação. A displicência em mim. Meu desejo, meu cansaço, essa constância de ímpetos. A covardia e a coragem se entrelaçando. Já estou sem paciência. A desconfiança só pode ser revelada num muro sem divisões - começo a pensar em execuções e lamentações. O que interessa é que nunca a senti [a morte] tão presente, com seus braços mornos, seu olhos azuis, sua pele macia, seu cheirinho de sândalo, mas sem qualquer epifania. Penso que não deveria interessar-me tanto por Deus... seria superior às tormentas. Quanto mais penso que duvido, enobrece-se e se torna inabalável minha fé. Não sou bandoleiro ou poeta - que regalo teria? Falo de mortes, do presente proscrito, do que já foi escrito na alma, portanto, no corpo [para além de tudo, doído], do medo e da queda, do grito que vicia e é amplificado nas solidões. Todos estão calados. Por que falar das próprias mortes? Sem quebrantos de amor ou dores concretas. Gostaria de ter outro projeto. Os que me importam já estão sendo tocados, e bem. Mas, neste momento, o ponto é a morte do que nos resta, do que já não mexe, já não mais arrepia - para que uma nova vida cresça sem mortes.

27 julho 2009

Ao Nada


escrever pelo nada
pela desvontade e pelo desgosto
escorrendo pelo esgoto dos sentimentos
palavras que são mudas e claudicam
trôpegas se amontoam num imperativo
ofertando o único caminho à primeira razão
escrever pelo nada
nada dizer, nada querer, nada fazer... não morrer
nada comer
mas digerir o nada dentro de mim
com atos em falso e passos reais

escrever pela falta de inspiração
por um amor ou uma dor que, de resto, só faltam
por um desejo quase morto em si mesmo
pelo objeto, que de pirraça, cai.
escrever pela falta
pelo que não é mostrado ou dito
pelo que não sai e incomoda
pelo que comprime, aperta, afoga...
prende e liberta o corpo
solto, desprotegido, desvalido

escrever pela obrigação
pelo zelo ao nome e à condição
pela dignidade que sobra aos que tudo levaram
escrever como tarefa árdua
com a determinação de um bom vaqueiro
e a delicadeza aristocrática de um dândi
escrever pelo prazer
pelo impossível de não o fazer
pela necessidade de esquecer
e dar ao mundo o que não quero ter.

22 julho 2009

Sem outras palavras...


- olhe a cara dela!
veja o contraditório em suas janelas
tão sem ritmo e tão falsa amarela
veja o jeito frio como vela
cada espreita em cada movimento se desvela
que jeito!
impiedosa, zen-graça, tagarela
rapidamente desmantela
desrespeito ... na própria lama se mela
eu, vã, fui sentinela
e vi palavras enforcadas nas aquarelas
pintadas habilmente sobre a tela
olhe...
não há amor no drama que estrela,
assim como não tem cadência,
nem espírito ou competência
para ser obra-prima ou fancy book
para este desgosto em forma de poema

I still standing up


não lhe contei o que doía!
aquilo que marca a pele e confunde a alma
e que me faz reler a vida a cada momento
- o que não foi dito pela astrologia.
não lhe falei da minha face...
das que se fizeram possíveis ou necessárias...
das que restavam no armário
- tão gastas e solitárias quanto as desculpas
as dúvidas, sim, coloquei na mesa...
e gritamos que acreditaríamos,
mas eu sussurrava sozinho meus medos
dizia de um tudo (menos o nome) - não será uma repetição
disse-lhe tanto sobre meu jardim
das flores que rego e dos parasitas que aceito
sugeri quando poderíamos tomar sol
ou a trilha que deveríamos ter caminhado...
vã aceitação -
fútil engodo
não lhe disse o que não lhe pertencia
compreendi perplexo sua desatenção
- que regalo! não sabia que estava em julgamento
ainda há amor, mas o olhar está morto.
morto como só as pedras sabem estar.

21 julho 2009

Sem fantasia.

Hoje não tem verso, nem fala, nem frio, nem fome ... só o real; ainda assim, resta-nos a arte - confiram este video de Chico e Caetano - Sem Fantasia.

Desprendimento


só aprendi a amar
nunca tentei defender
(nem tenho espírito bélico);
- é mais difícil dizer sob o luar?
caminhei na direção de me mostrar
jamais pensei em julgamentos
olhares que não fossem meus
segui em contradição com o Sol
aprendi a amar sem provar,
experimentar, degustar, saborear...
fiz-me de entrada.
- não preferi os bilhetes insinuantes
às dores e sabores que ficavam na boca...
nunca me defendi do meu amor
mesmo quando estive sob o fundo-falso do poço
nunca lutei contra, seguia o rio...
bloqueava, driblava, seduzia
amortecia a queda e, aos poucos, morri de amor.
só aprendi a amar
amar o que o outro queria
amar o que você defendia
amar tudo o que nada dizia.

- já não sei mais amar.

19 julho 2009

Amar

"Amar é dar o que não se tem." Platão (depois Lacan)
No auge dos meus trinta anos ou no amanhecer do resto dos meus dias, ainda não consigo definir melhor o amor. Acredito que sendo tão pessoal e universal, o amor (criação nossa) não tenha outras definições plausíveis. O ato em si tem infindáveis bordões (amar é isso, aquilo, meio-amargo, "meia-calabresa"), mas o amor, não. "Sabe lá, o que é não ter e ter que ter pra dar, sabe lá" (Djavan). Não pretendo o posto de Platão ou Lacan, só quero entender isso que não dou nome, nem forma, nem textura e tanto dói ... algumas vezes é vazio noutras transmuta-se num infinito, desprezo gratuito e doação sem limites, não tem uma sensação mas uma verdadeira alucinação em todo o corpo, desregramento dos sentidos, algumas vezes faz sorrir mas, de ordinário, chora-se. "Quem inventou o amor me explica por favor" (Renato Manfredini). E lá se vão mais poetas...

Percebi a noite

percebi, outra vez, que era noite
noite sem sombras nem desejo
gritos ou sussurros já haviam calado
percebi a noite como um exaustivo espelho

percebi que era noite clara
semáforos angustiados nublavam o néon
televisores formam um insone vitral
percebi tudo na solidão de minha existência

a noite já era um não-ser
caras plásticas sem vestígio de qualquer alma
nomes de promessas e instantes de ofensas
percebi a noite como uma máscara vienense

a noite fria dos medos
ruas em transe e falas contidas
sonha-se um sonho cinza em cada meio-fio
a noite já não era minha madrugada
- já não tenho mais café!
ouço passos apressados e encantamentos modernos
semblantes diferentes que clamavam e reclamavam o mesmo

percebi que amanhecia
e voltei a sorrir.

18 julho 2009

Ferramentas

arco-íris e por-do-sol

nos tratamos de forma mais suave
sorrisos...
assim nos permitimos sonhar.

voltei a bater à sua porta
não lhe trouxe flores dessa vez
mas minha alma decorada com alfinetes de verdade
(estava linda e com um olhar ainda confuso)

repessamos nossos lugares à mesa
toda mancha, sombra e silhueta
não quero mais outra "aquela" música
nem esperar cada piscar de amanhecer

venha me beijar
cale minha boca com seu desejo
quero sentir as pétalas pelo meu corpo
perfumando-me de saudade-rosa e quero-mais

hora de encontros
no crepúsculo de nosso passado
alvorecer de um devir em amor
em cada espectro de viver, sentir, sorrir, sumir


ferramentas...
gotas de chuva em nossa janela.

13 julho 2009

números

temos um número, um basta!


um padrão e uma meta

um na porta da sala

outro na ponta da testa

temos um número no corpo

nas almas...

que Cristo deixa ou leva

nas mercadorias de grifes famosas

nos pratos das balanças assimétricas.

temos um outro no espelho

de costas

ou de frente

não são os mesmos.

mudam nos olhos, nos medos

ainda temos os números que tentam competir com o desejo.

nos poemas eles se repetem, repetem

repetem.

no quadro da vida

escrita, lida, rezada, murmurada

na palavra (não-bem-quase) dita

realizamos um número que não é.

12 julho 2009

eu

eu
eu te amo
eu me amo
eu o amo
eu a amo
eu não
eu, sim, amo
eu quem amo?
eu só amo!
Não diga que me ama
abrace meu peito
toque nas minhas mágoas
aceite este co(r)po meio-cheio
e diga que dormiremos juntos
Não prometa largar tudo
deixe-me ver sua alma
fazer um coral com nossos grilos
aceite a toalha na cama
assim, prometo nada lhe prometer
Não jure secretamente
cuide de suas asas e
esqueça dos fantasmas nos nossos quadros.
Representações.

30 junho 2009

Partindo II



não percebia porque fugia
apenas corria, demasiadamente corria
corria de mim, dos sonhos, do espelho
da calmaria e do susto no banheiro

fugia, calava - calado
até os olhos ficarem mudos
na guerra silenciosamente travada
nas entranhas do que me deixa em silêncio

rodopiava feito uma bailarina sem pernas na própria arena
onde mal podiam passar os sonhos ...
eu não sufocava, mas era inútil correr
eu não sabia nem por onde começar a fugir

rodar, radar, pensar, rodar
ficar, rodar, respirar... sei lá!
na mente de quem foge
só importa não parar para falar.

p.a.r.t.i.n.d.o.


já não sou poeta
quebrou-se algo na altura dos dedos
e, sem ver a brecha,
saí do céu sem tocar a terra.

tenho apenas uma caneta
deixei de sentir o rio...
fiquei tanto tempo sem olhar para mim
que me acostumei com o espelho vazio
talvez ser bardo seja ser o próprio espelho
- faça um verso para não esquecer
- faça um pedido que possa merecer
escrever o que atrair o olhar

falta de versos - espelho morto
falta de sono - pensamento absorto
como tornar familiar o papel em branco
sem pensar no primeiro olhar para o mundo das pessoas?

29 maio 2009

p.r.a.t.o.(.a.).s.

um prato e uma prata de faltas


um casco e um lombo



o asco e o assombro



teus desejos e minhas falas



numa prata e pratos de você



dados às alturas e aos meus pés



o amor e o terror



nossas falas sem beijos



mas o prato cheio de pratas



que ligavam coisa alguma



o não poder e a necessidade



e os beijos que não se dava porque se falava



e minhas pratas amontoadas



guardando lembranças



em cima de pratos



que não beijo mais... falo!

29 abril 2009

c.l.o.w.n.

Um palhaço triste
- paradoxo da minha infância.
Que só quis fazer rir
mas como é gente
entristece, sonha, frusta, mente...
Desabrocha da semente do inusitado
a surpreza do riso, do grifo, do dito... é um mito!
Ainda acredito em palhaços
com sua humanidade nobre
e divindade medíocre
riso fácil e choro torrencial
- Abram espaço no picadeiro!
Lá vem nosso espelho amplificado!
Oh, sad clwon faça-me sorrir!

27 abril 2009

Fênix II


Eu caí
pensando ter o mundo
você e muito mais
Confundi o chapéu panamá
a jibóia e o elefante
e a esperta rosa
Fui como uma flor
que desconhecendo sua verdadeira natureza
fica ao sabor de descuidados olfatos errantes
Mas vou levantar
tendo-me aos meus desejos
medos e um pouco mais de tudo o que falta
Sim, não levantarei flâmulas
ou escudos ou estandartes
- um mestre-sala do mundo
dançando, caindo, coreografando e dançando... endless
Na verdade sou como aquela flor
que surge do fogo
mora no tempo
vive de água
e - padece, enlouquece, carece, merece, desfalece -
morre de amor e paixões.

23 abril 2009

23 de Abril....abriu-se a mata e Osossi surgiu!



Salve Jorge... Cavaleiro Intrépido e Vencedor.... Zela por mim e pelos meus, abrindo e iluminando os nossos caminhos! Axé.

14 abril 2009

j.á. f.i.z.!.

Cantarei
dançarei rezarei a cor de névoa
de sonhos e de uma causa
como a de uma camisa rosa e calças cor de pele

honrarei teu nome no desafio
prudente do teu corpo suor beijo e saliva

Escreverei poemas mudos
silentes e confidentes de minh'alma
de minha calça branca e camisa sem cor
- eles que olham para mim enquanto lhe desejo

fotografarei sua linda tristeza
no instante da saudade da quase-morte.

Serei teu!

12 abril 2009

v.o.c.ê.

Você sai
Isso é amor
Você fica
Isso é o meu amor

Você entra
Prazer
Você permanece
Faz-me enlouquecer

Você diz
Calo.
Você cala
Choro.

Você olha
Exibo cores
Você desvia
Quanta indiferença

Você vive
Respiro
Você sorri
Ardo!

Você.
Eu.
Você
Só meu.
Amor!

07 abril 2009

Orquídeas


não deixe de ver
o botão já abriu
e a flor (viva) caiu

sinta o que tem em mente
esta é somente você
num microcosmos sem lentes

viva mais que sinta
se for preciso, finja
se não, pareça mentir

mas não deixe de ver
que quem fingiu ser botão
não segura a flor nem na mente.

04 fevereiro 2009

amaromar

amar
desobrigação do escravo,
cura dos viciados,
morte dos incautos,
repelente nas noites quentes.
do verão, álibi
do inverno, cúmplice.
da morte, espelho e
da vida, coisa pouca!
- interrogação de nobres literatos (não por acaso)
amar,
no mar
o mar e
a maré
saudar
amar a mim
a você
a ninguém
só amar e
be loved in return
se houver luz
( e quem a desligue e ligue)
amar
sempre,
sem presente
ou vida prévia
com morte iminente
sempre lá
sempre ausente.
amar,
até o mar!,
que como eu,
voltar-se-á para dentro
nas entranhas
da terra
do corpo molhado
do copo quebrado
do gozo calado,
e, novamente,
tornar-se-á mar
maré
doce
e
quente!
como uma prainha que costumava frequentar!

Mais do Mesmo Alívio!!!