21 fevereiro 2018

Nobreza marginal

Confesso: minha alma é aristocrata
Descendo de uma linhagem imaginária
De reis esnobes e arrogantes da Bahia
Dos reinos de São Caetano e Nazaré (das farinhas)
De uma seiva incomum nas veias
Com um brilho inconteste sobre a pele
Visto pelos olhos fechados do desejo

No entanto, luto nessa vida proletário
Tenho sol, poeira e chuva nos ombros
Faço versos no descanso do turno da luta
Como de tudo, bebo também, sem labuta
Faço contas, pago planos, almoço a peso
Vou ao Buracão e tomo sol em exagero
 E sou pipoca de lavagem em todo largo

Me encanto com clássico e popular
Me arrisco num samba marginal para desvendar

Dos restaurantes de Sampa e da Barra
Aos pés-sujos de toda brejeira Salvador
Sei do menu às neuroses de seus garçons
Sorrio pra todos e pago gorgeta
Não é sobra, mas empatia na mesa
Na minha esquizofrenia social
Um aristogato vira-latas em ascenção

Pago Alimentos com olhos em Dubai
Decorei os manuais de etiqueta
Minhas roupas, após seis vezes, são caras
Uso também itens da promoção
Meu tempo de vida é mais que dinheiro
Meus gestos, sobre acusações, são finos
Ainda que ande com martelo e foice no peito.

Me encanto com vernáculo e linguajar
Me arrisco numa poesia marginal para revelar

06 fevereiro 2018

Vem pra rua

Tava cheio, 
Tava lindo,
Tava sujo
e muito calor
Carnaval antecipado
Furdunço descarado
E governantes cheios de bossa
Vem pra rua Salvador!
Micro trio
Micro prévia
E muita cerveja
Parecia cota única
Um único rótulo no isopor
Sem reclamar... 4 por 10 (reais)
Isso já é quase amor.
Polícia, tinha no bonde
Guarda, se viu de longe
Gente metendo dança, coisa fina
Banheiro químico nem perto
Os morros vertiam lama sob os pés
A Salvador criativa do hightour
Não dispensa seu perfume de cevada e urina
Era véspera
Era ensaio
Era o circo na negra Roma
Para gladiadores, os foliões
Para imperador, os foliões
Para corpos mortos, os foliões
E reencenamos a loucura social com honras
Tinha coroa
Tinha chinela
Tinha até fantasia de si
Tinha negro
Tinha viado
Gente de boa, gente naquela
Tinha um mundo hipnotizado passando por mim
Mas nem tudo nos olhos
Às vezes, no chão
Mais uma lata, catavam sujas mãos...
Mas quem poderia ver?
Se descer ou subir era
Só ao comando do refrão
Deixando a lata cair pra desaparecer.
Mas, faltando cinco dias...
Já é carnaval!
Nem camarista
Nem alcaide 
Me dirão como dançar
Que corda pular ou a cerveja perfeita
O carnaval só me serve
Para ver o samba nascer
Nos pés da minha preta.
Décio Plácido Neto, 05.02.2018.

Mais do Mesmo Alívio!!!